Os programas estratégicos das três Forças Armadas brasileiras para as próximas duas décadas somam R$ 124 bilhões em investimentos. Todos orientados para a transferência e o desenvolvimento de tecnologia no Brasil, com o objetivo de formar um parque industrial bélico no País. Os sete projetos estratégicos do Exército representam quase metade desse total: R$ 57,03 bilhões, de acordo com levantamento feito pelo Estado.
A Força Aérea Brasileira pretende comprar 120 caças, no valor de cerca de R$ 10 bilhões. A transferência de tecnologia é um critério chave na escolha do fabricante. Por causa de sua oferta de transferência "irrestrita", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a anunciar a escolha do avião francês Rafale, fabricado pela Dassault, mas recuou diante da resistência da FAB. A maioria dos militares prefere o americano F-18, da Boeing, como máquina de guerra. Mas os obstáculos para a transferência de tecnologia são grandes entre os americanos, e os oficiais das áreas de pesquisa e desenvolvimento insistem no sueco Gripen, da SAAB.
A Marinha trabalha na construção de um reator nuclear de geração de energia para a propulsão de submarino. O projeto, que envolve ainda o enriquecimento de urânio, não só para o submarino mas também para a geração de energia elétrica, está orçado em R$ 2,59 bilhões, e se estende até o ano 2025.
A Marinha mantém um programa de desenvolvimento de submarinos, chamado de PROSUB, no valor total de R$ 27,26 bilhões, também até 2025. O projeto inclui um estaleiro para a construção de quatro submarinos convencionais e um nuclear, além de uma base naval.
Outro programa da Marinha, o PROSUPER, no valor de R$ 18 bilhões, é a construção de 11 navios - 5 fragatas, 5 escoltas e um de apoio. Seis países disputam o contrato: Alemanha, Coreia do Sul, Espanha, França, Itália e Inglaterra. Os navios devem ser construídos no Brasil a partir de um projeto existente e já em operação. O fornecedor terá de transferir tecnologia a um estaleiro brasileiro.
A maioria desses projetos foi gestada no fim do século passado. Mas eles parecem ganhar mais impulso, com a ênfase na transferência e desenvolvimento local de tecnologia, e a perspectiva de exportação. "Para que uma empresa possa exportar, primeiro ela precisa fornecer para o governo de seu país", observa Luiz Carlos Aguiar, presidente da EMBRAER Defesa e Segurança.
A exigência de conteúdo nacional por parte da FAB tem tornado concorrentes da Embraer inelegíveis no Brasil. Algumas empresas brasileiras que se associaram a parceiros estrangeiros temem agora que o mesmo aconteça com elas nas disputas com a EMBRAER por contratos com o Exército. O assunto é delicado por causa do sigilo que encobre as escolhas e contratos feitos pelas Forças Armadas.
No momento em que o Brasil deixa décadas de letargia na área da defesa e se lança para a criação de um parque tecnológico e industrial para o setor, muitas oportunidades surgem, e muitos desafios também, nas relações entre o público e o privado.
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