Daniela KreschA guerra civil na Síria ecoa na fronteira do país com Israel. Pela primeira vez em quase 40 anos, desde a Guerra do Yom Kipur, em 1973, Israel lançou um míssil antitanques (o novíssimo modelo Tamuz) contra solo sírio depois de ser atingido, pela quarta vez em uma semana, por projéteis lançados do país árabe contra as Colinas de Golã. A troca de hostilidades tem o potencial de incendiar o Oriente Médio, principalmente se for acompanhada de bombardeios mútuos também na fronteira entre Síria e Turquia.
“As forças do Exército de Defesa de Israel fizeram tiros de advertência e transmitiram uma mensagem às forças sírias através das Nações Unidas. Qualquer fogo adicional irá provocar uma resposta rápida”, afirmou o Exército, em comunicado.
Para a maioria dos analistas, o fogo sírio que atingiu Israel não foi intencional, e sim fruto dos confrontos entre o Exército e a oposição ao governo do presidente Bashar al-Assad. Os militares tentam, há semanas, retomar as cidades de Kuneitra e Bir Adjam, a poucos quilômetros da fronteira com Israel, controladas atualmente pelos rebeldes. O mesmo tem acontecido na fronteira com a Turquia.
ESCALADA NA ÚLTIMA SEMANA
Apesar de Israel e Síria estarem, tecnicamente, em estado de guerra desde 1974, quando assinaram um acordo de cessar-fogo, a fronteira era considerada uma das mais calmas nas últimas décadas. Desde o começo da guerra civil síria, no entanto, a tensão aumentou. Em julho e setembro, houve casos esporádicos de projéteis que caíram nas Colinas do Golã. Mas, na última semana, eles se acentuaram. Na quinta-feira, três morteiros atingiram a região. Um deles caiu no quintal de uma casa no vilarejo de Alonei HaBashan. Dias antes, três tanques sírios entraram na zona desmilitarizada estabelecida pela ONU em 1974 e um foguete sírio alcançou um jipe militar israelense na fronteira.
- O problema sírio pode acabar se transformando em problema nosso – disse, em reação à escalada na tensão, o general Benny Gantz, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Ontem, um morteiro sírio de 120 milímetros atingiu a base militar de Tel Hazka, no Norte do Golã, explodindo numa área não populada. O exército israelense enviou uma queixa formal às Forças Observadoras de Separação da ONU (Undof), afirmando que “o fogo que chega a Israel a partir da Síria não vai ser tolerado e poderá ser respondido com severidade”. Paralelamente, os militares dispararam o míssil Tamuz, teleguiado, alvejando intencionalmente uma área despopulada.
- A intenção da resposta de Israel não foi a de instigar guerra, e sim enviar um sinal à Síria que Israel não vai ignorar fogo contra seu território – afirma o analista político Ron Ben-Yishai.
Mas, apesar disso, os moradores das Colinas do Golã se preparam para uma elevação na violência. Muitos estão limpando abrigos antiaéreos para o caso de uma nova guerra com a Síria.
Segundo o professor Ely Carmon, do Centro Interdisciplinar Hertzelyia, o lançamento de ontem contra Israel pode ter sido intencional, mas também pode ser uma provocação do exército de Assad com o objetivo de atrair Israel para dentro do conflito e, dessa forma, conseguir o apoio de parte da população e do resto do mundo árabe. Outra teoria é a de que “jihadistas” estrangeiros estejam preparando o terreno para um conflito com o Estado Judeu.
- Nos últimos dois meses, entraram na Síria e se estabeleceram na fronteira com Israel elementos “jihadistas” e membros da rede terrorista al-Qaeda. Eles já dizem claramente que assim que “acabarem com o trabalho” contra o governo sírio, vão continuar a lutar também contra o país – acredita Carmon. – De qualquer forma, a situação do Golã só ficará mais complicada.
TROCA DE HOSTILIDADES COM GAZA
Se a fronteira Norte está agitada, o mesmo se pode dizer da fronteira sul de Israel, com a Faixa de Gaza. Na sexta-feira, começou uma nova rodada de ataques e contra-ataques entre o exército israelense e militantes de grupos radicais palestinos como o Hamas e a Jihad Islâmica.
A escalada da violência começou quando um jipe de Israel foi atingido por um míssil quando patrulhava a fronteira. Em resposta, a Força Aérea israelense atacou alvos no Sul de Gaza, matando seis pessoas: dois militantes de grupos islâmicos e quatro civis. Nas 48 horas seguintes, mais de 120 mísseis, foguetes e morteiros lançados de Gaza aterrissaram em Israel, ferindo três civis e paralisando todo o Sul do país.
- O mundo precisa entender que Israel não vai ficar de braços cruzados quando enfrenta tentativas de nos ferir – disse o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O premiê – que concorre à reeleção pelo partido conservador Likud no dia 22 de janeiro – está sob pressão popular para acabar com os bombardeios de Gaza, ao mesmo tempo em que não parece ter interesse em melindrar a opinião pública internacional – e o novo governo do Egito – com uma nova guerra no território palestino.
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