Brasil defenderá que violações não sejam "pretexto" para avançar "outras agendas", afirma embaixadora
É a terceira vez, desde a criação do conselho, em 2006, que o Brasil fará parte do grupo de 47 membros que têm direito a voto sobre resoluções. Ontem, ele foi eleito por 184 dos 193 países da ONU.
E, para o próximo mandato, que começa em janeiro de 2013 e vai até 2015, o país diz que defenderá uma atuação "não seletiva" do conselho.
"Todo país tem problemas de direitos humanos, alguns mais evidentes, outros menos. Mas temos que procurar evitar que o conselho se interesse por um tipo de violação num país e não se preocupe com o mesmo em outro país", disse à Folha, por telefone de Genebra, a embaixadora Maria Nazareth Farani, representante do Brasil para o CDH, sem citar países.
Segundo Farani, é importante que os países que compõem o conselho tratem os direitos humanos não como um "pretexto para tratar outras agendas".
Para organizações de direitos humanos como a Conectas, o Brasil deveria propor, nominalmente, casos de países em que as violações não são discutidas no conselho por razões políticas. De acordo com Farani, o Brasil propõe, como resposta à seletividade, o debate de temas para o organismo, "sem dizer que é para discutir um país".
No caso do Brasil, a embaixadora nega que o governo seja mais brando a votar sobre violações de governos amigos, como Teerã. "A presidente disse que o governo não vai fechar os olhos para violações de direitos humanos onde quer que eles ocorram", disse, lembrando que o país votou a favor da criação de um relator especial para o Irã.
Em novembro passado, o Brasil, contudo, se absteve de condenar violações no Irã na Terceira Comissão da Assembleia Geral, em Nova York.
Na questão síria, a embaixadora destaca que o conselho tem feito seu trabalho ao denunciar e condenar a violência no país. "Mas a situação da Síria tem várias outras perspectivas, que têm que ser tratadas pelos órgãos compe tentes no tema."
VENEZUELA
Um dos casos mais emblemático da votação de ontem ao CDH foi o da Venezuela. Organizações, como a Human Rights Watch, já tinham contestado publicamente a candidatura do país, que é acusado de não garantir liberdade ao Judiciário e à imprensa, e recentemente abandonou a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.
Caracas recebeu 154 votos, mais do que foi computado para os EUA (131) e a Alemanha (127), por exemplo. Um país deve receber, no mínimo, 97 votos para ser eleito.
O Brasil também é alvo de críticas por violações de direitos humanos dentro do país, como no falho sistema prisional. Recentemente, o país recebeu 170 recomendações da ONU, das quais acatou 159.
"Ninguém disse que o Brasil não tem esses problemas. Nessa área prisional estamos tomando várias providências, mas não acontece da noite para o dia", diz Farani.
O Brasil já se comprometeu a criar uma instituição nacional de direitos humanos independente do governo e um mecanismo nacional contra a tortura, que ainda não saíram do papel.
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