O Exército dos Estados Unidos enviaram secretamente uma força-tarefa com mais de 150 especialistas para ajudar as Forças Armadas da Jordânia a lidar com a chegada em massa de refugiados sírios e se preparar para as possibilidades de Damasco perder o controle de suas armas químicas e de o conflito se expandir para o restante da região. A informação, divulgada pelo jornal “The New York Times” nesta quarta-feira, foi confirmada horas depois pelo secretário de Defesa, Leon Panetta, durante uma reunião com ministros de países membros da Otan, em Bruxelas.
O secretário informou que os Estados Unidos têm trabalhado com a Jordânia para monitorar armas químicas e biológicas na Síria e ajudar Amã a lidar com o fluxo de refugiados que cruza a fronteira. Mas a revelação de militares americanos tão próximos à fronteira síria sugere uma escalada do envolvimento de Washington no conflito.
- Temos um grupo das nossas forças lá trabalhando para construir quartéis-generais e garantir uma forte relação entre EUA e Jordânia para que possamos lidar com possíveis consequências do que está acontecendo na Síria – disse Panetta.
Mais cedo, o “New York Times” informara que a força-tarefa americana tem como base um centro de treinamento militar jordaniano construído ao norte de Amã. O objetivo agora é focar na ajuda à recepção dos 180 mil refugiados sírios que já cruzaram a fronteira com a Jordânia e estão sobrecarregando os recursos do país. Mas autoridades americanas familiares com a operação contaram ao jornal que a missão também inclui a elaboração de planos para tentar isolar a Jordânia, importante aliado americano na região, do levante na vizinha Síria e evitar qualquer tipo de confronto na fronteira entre os dois países. Elas dizem que a ideia de criar uma zona-tampão entre Síria e Jordânia – que seria administrada por forças de Amã no lado sírio da fronteira e apoiada política e até logisticamente pelos EUA – também foi discutida. Mas, neste momento, a construção da zona ainda é uma incógnita.
A revelação ocorre quando os americanos estão a menos de um mês das eleições presidenciais e quando Barack Obama tem sido acusado pelo adversário Mitt Romney de adotar uma posição muito passiva diante dos conflitos no Oriente Médio. O governo americano se recusa a intervir no conflito sírio e ajuda a oposição ao ditador Bashar al-Assad apenas com o envio de equipamentos de comunicação e assistência não letal. Mas o centro de treinamento perto de Amã pode ser uma peça central se os EUA decidirem mudar sua postura em relação à Síria. O complexo fica a menos de 60 quilômetros da fronteira síria e é a presença americana mais próxima ao conflito.
Autoridades do Pentágono e do Comando Central, que supervisiona as operações militares americanas no Oriente Médio, se negaram a comentar a força-tarefa ou sua missão. Um porta-voz da embaixada jordaniana em Washington também se recusou a falar sobre o assunto na terça-feira.
Missão organizou treinamento com 12 mil soldados de 19 países
Com a escalada da crise na Síria, aumentaram as preocupações em Washington de que a violência possa se espalhar pela região. Na última semana, Síria e Turquia trocaram agressões e morteiros na fronteira, um dos pontos principais da travessia de rebeldes. No ocidente sírio, combates intensos aconteceram perto da fronteira com o Líbano. No leste, o governo de Damasco perdeu o controle de algumas passagens de fronteira, incluindo uma perto de al-Qaim, no Iraque.
A Jordânia também foi afetada pelo conflito. Recentes confrontos eclodiram entre militares sírios e guardas de fronteira jordanianos no norte do país, onde muitos moradores têm família na Síria. Em agosto, uma menina de 4 anos foi ferida em uma cidade da Jordânia, quando sírios atacaram sua casa, e há receio no país de que o aumento acentuado da violência leve a um número ainda maior de refugiados.
A Jordânia, que foi um dos primeiros países árabes a pedir a renúncia de Assad, está cada vez mais preocupada que os militantes islâmicos que vêm de outros países para se juntar aos rebeldes sírios possam cruzar a fronteira porosa entre os dois países e ir para a Jordânia.
A missão americana na Jordânia começou de forma discreta neste verão. Em maio, os EUA organizaram um enorme exercício de treinamento, com cerca de 12 mil soldados de 19 países, incluindo integrantes de forças especiais. Depois que o treinamento acabou, um pequeno efetivo americano ficou em Amã e uma força-tarefa foi montada com especialistas em comunicação e logística, estrategistas e equipe de quartel, disseram autoridades americanas.
- Nós estamos trabalhando lado a lado com nossos companheiros jordanianos em uma série de questões relacionadas à Síria – disse George Little, secretário de imprensa do Pentágono.
Membros da força-tarefa americana passam a maior parte do tempo trabalhando em logística com militares jordanianos, tentando descobrir maneiras de deslocar toneladas de comida, água e sanitários para a fronteira, por exemplo, e treinando militares para lidar com os refugiados. Há um mês, cerca de 3 mil pessoas cruzaram por dia a fronteira jordaniana. De acordo com a ONU, a Jordânia abriga hoje cerca de 100 mil sírios.
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