sábado, 3 de novembro de 2012
O Exército e Força Nacional devem atuar em São Paulo?.
Fernando Pinheiro Pedro
e Marisa Feffermann
Sim. O emprego do Exército e da Força Nacional ajudaria a preservar a imagem da Polícia Militar, que já está bastante desgastada. Homens vindos de fora poderiam ser mais facilmente vistos como representantes de forças neutras, uma vez que os embates dos PMs paulistas com a população acabaram criando uma imagem de desconfiança e de suspeição junto aos policiais. Seria até uma maneira de preservar a corporação.
O crime não se combate apenas com policiamento ostensivo, mas também com autoridades que sirvam como referência no território. Esse papel pode ser cumprido pelo Exército, que aprendeu no Rio a conviver nas comunidades sem o uso de armas e mediando conflitos.
Uma segunda necessidade para complementar essa política seria associar as medidas de segurança com as de saúde, sociais, o trabalho das organizações não governamentais, para assim criar uma rede sólida de proteção. Também ajudaria se promotores e juízes arregaçassem as mangas e fossem trabalhar nesses lugares, lidando com os conflitos.
Não. A ocupação pela Força Nacional e pelo Exército de uma comunidade como Paraisópolis, há décadas estabelecida na cidade, vai servir apenas para quebrar a rotina harmônica vivida pelos habitantes de lá e criminalizar uma população já alheia a diversas oportunidades e direitos que são acessíveis apenas a pessoas que vivem nos bairros centrais. Paraisópolis, que eu conheci como pesquisadora, é uma comunidade efervescente. No fim da tarde e começo da noite, as ruas ficam lotadas de gente: crianças, idosos, carrinhos de bebês, homens e mulheres vestindo uniformes de trabalho. Cheiro de churrasquinho e de fritura, trânsito intenso na rua, dois bancos, escolas, postos de saúde e uma forte sensação de segurança entre pessoas que se conhecem e até dormem com a janela aberta.
A rede de solidariedade é bastante sólida e a chegada de forças de segurança acaba fragilizando esses laços e aumentando o medo. Nas operações anteriores, jovens apanharam, casas foram invadidas, marmitas remexidas, criando-se um forte sentimento de revolta.
Fernando Pinheiro Pedro é advogado e já atuou na Justiça Militar. Marisa Feffermann é Doutora em Psicologia Social.
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