Otan teme cartada final do ditador Assad para se manter no poder ou o acesso de terroristas a arsenal
Aos grandes riscos que o Oriente Médio enfrenta hoje – batalha campal no Egito, conflito entre Israel e palestinos – somou-se outro com consequências potencialmente trágicas: o temor crescente de um ataque químico na Síria. O regime de Bashar al-Assad estaria pronto para utilizar armas químicas como cartada desesperada para sobreviver no poder, segundo a Turquia, os Estados Unidos e a Otan.
No último dia 14, os EUA autorizaram o envio de uma bateria antimísseis e de soldados àfronteira com a Turquia, após a aprovação pela Otan do pedido turco. Foguetes de artilharia sírios já haviam cruzado a fronteira, e Ancara acredita que os mísseis Scud soviéticos, aos quais o regime começou a recorrer, podem aterrissar na Turquia. A mensagem da Otan ao regime foi clara: que não se meta fora de seu território.
- A possível utilização de armas químicas seria totalmente inaceitável para toda a comunidade internacional e, se alguém recorrer a estas terríveis armas, eu espero uma reação imediata da comunidade internacional – disse, em tom de alerta, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.
O regime de Assad reagiu dizendo que isso é “pretexto” para uma intervenção estrangeira. Usando ou não essas armas, um elemento é suficiente para alarmar as potências internacionais: a Síria é o primeiro país com armas de destruição em massa a mergulhar numa guerra civil, e esse arsenal pode cair nas mãos de grupos terroristas.
Barril de pólvora
“O país é um barril de pólvora química pronto para explodir”, alertou um relatório de julho do Centro James Martin de Estudos de Não Proliferação do Instituto Monterey de Estudos Internacionais. O instituto cita pelo menos quatro locais de produção dessas armas: al-Safira, Hama, Homs e Latakia, enquanto os depósitos estariam em Khan Abu Shamat (a nordeste de Damasco) e Furqlus (perto de Homs). E está convencido que o arsenal – criado essencialmente contra Israel – é vasto.
- Eles têm gases que foram usados na Primeira Guerra Mundial, como mostarda e cianeto. Também desenvolveram gases nervosos (que atacam o sistema nervoso e provocam morte por asfixia) e também têm o mais moderno e persistente gás nervoso VX – disse Leonard Spector, vice-diretor do Centro James Martin, numa entrevista à rádio “Voice of America”.
E o temor é nas mãos de quem esse arsenal pode cair: al-Qaeda, Hezbollah?
- A Síria tem provavelmente um dos maiores e mais sofisticados programas de armas químicas do mundo – avaliou o presidente da Federação de Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês), Charles Blair.
Blair lembrou que os insurgentes sírios estão se radicalizando. Ele teme que a revolta acabe nas mãos de jihadistas, e as armas, com terroristas. Blair argumenta que é difícil guardar armas quando um governo desmorona.
- Durante a intervenção americana no Iraque, mais de 330 toneladas de explosivos militares desapareceram da instalação militar de al-Qaqaa. Mais de 200 toneladas do mais poderoso explosivo do Iraque, HMX, usado por alguns Estados para detonar a bomba atômica, estavam lacrados pela Agência Internacional de Energia Atômica. E várias toneladas deste HMX selado desapareceram – relata Blair.
Fora dos tratados
Armas químicas têm uma longa história de tragédias. Começaram a ser usadas na Primeira Guerra Mundial. Um ataque com elas tem consequências imprevisíveis. Em 1995, a seita Verdade Suprema matou 13 pessoas e deixou 5.500 intoxicadas ao usar gás sarin, uma das armas que acredita-se que a Síria possuiria, no metrô de Tóquio.
A maioria dos países prometeu destruir seus estoques com a Convenção de Armas Químicas. E também assinaram tratados que proíbem o uso de armas biológicas. Em 2008, EUA e Rússia declararam ter destruído 40% de seus estoques. Apenas oito países, entre eles Síria e Coreia do Norte, não assinaram o tratado.
O programa de armas químicas do país teria começado nos anos 1970. Ninguém sabe em que pé está, mas especialistas dizem que o país conseguiu produzir o VX. Oficialmente, a Síria não assume que tenha estas armas.
- Não creio que usarão armas químicas. Seria um suicídio, significaria o abandono dos aliados. Os russos não vão aceitar e até os iranianos estão inquietos – opinou Salam Kawakibi, diretor do Arab Reform Initiative, em Paris. – Mas o regime pode ameaçar usá-las para reforçar sua posição numa eventual negociação.
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